O servo de Sagitário

tori
2 min readNov 26, 2023

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A educação de Aquiles por Chiron (1746) by Pompeo Girolamo Batoni

No início, quando os outros irmãos do Fogo dedicaram-se às artes bélicas ou à veneração, o espírito do centauro dedicou-se ao saber e o saber era essencialmente puro.

“O único poder verdadeiro é o que puder ensinar aos outros.”

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A flecha era como uma extensão de seu corpo, assim como o cavalo e, incrivelmente, o vento. Ela admirava os desígnios do ar, pois este lhe trazia uma sensação única de liberdade, ainda assim, era mais do que certo que o Fogo era o seu Deus Eterno.

No templo, o Fogo resumia-se às lareiras e embora fosse uma figura de adoração, era também o Pai do Pavor. O Fogo era supremo, aquecia contra o frio e cozia os alimentos, porém também queimava e destruía a bel prazer. Suas labaredas tomavam corpos, árvores e templos; por vezes, nem mesmo as florestas eram capazes de resistir ao seu domínio e sucumbiam ao esquecimento.

Estes fatos faziam-na refletir sobre o poder que deveria oferecer, mas principalmente sobre aquele que deveria controlar ou reprimir. O centauro era zeloso e fiel, sábio e solícito, por vezes atrevido e inquieto, até um pouco peralta, mas jamais perverso, jamais maldoso e jamais frio. Era seu dever e também sua honra oferecer o Fogo Sagrado para adoração e utilidade, mas a ira e o descontrole possuíam a temível possibilidade de causar a catástrofe.

Para isso existiam o riso, os mantras, as orações, as longas horas de meditação, o estudo do Sagrado, das ciências e das artes, o pensamento crítico, a prática da caridade e da justiça, e principalmente a renúncia às espadas e a guerra.

“Sagitário é o espírito do pacífico”, diziam os servos em sua mais lúcida sabedoria. E estavam mais do que corretos. Para os de fora era difícil contemplar o fogo como símbolo de paz, mas em meio aos servos do Templo Vermelho aquela era a única verdade pela qual se sacrificaria tudo.

A paz e a sabedoria eram os guias dos servos vermelhos e eram todos servos, pois recusavam lideranças arbitrárias e qualquer tentativa de controlar o espírito naturalmente livre de qualquer indivíduo, ainda assim, serviam a Vida como a um deus eterno.

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